Opinião] Mídia e educação, uma relação transdisciplinar
Uma reflexão sobre a transdisciplinaridade em atividades que contemplam a mídia na educação

Por Talita Moretto
Palavra longa e difícil de pronunciar: transdisciplinaridade. Sua sonoridade e soma de elementos nos remete, quase sem querer, à escola, às disciplinas, ao currículo. No entanto, o conceito é muito mais amplo, pois se trata de uma abordagem científica que visa à unidade do conhecimento (unidade = união = soma). O termo foi criado por Jean Piaget (um dos mais importantes estudiosos do século XX), na década de 1970.
É esse efeito “trans”, do transpor, do ir além, da busca, que traduz o real efeito da transdisciplinaridade no ensino que contempla mídias porque considera a dimensão da vida e do cotidiano, estimula o diálogo e defende que haja uma contextualização entre os saberes, respeitando as diferenças que possam existir.
Enquanto a interdisciplinaridade é apenas a conexão entre as disciplinas dentro do espaço escolar, a transdisciplinaridade irá unir as disciplinas, os alunos, os professores, a sociedade e o conhecimento.
Considerando a transdisciplinaridade no uso de mídia na educação, abre-se espaço para uma discussão curricular contextualizada com as questões sociais. Todas as formas de expressão podem ser contempladas nesse diálogo que transcende a sala de aula. A convergência das mídias e do ensino disciplinar acabam por revelar novas formas de aprender, de usar a criatividade, o saber e as habilidades individuais dos atores do processo: alunos e professores. Eu vi essa convergência acontecer.
Foram, aproximadamente, dez meses recebendo, lendo, discutindo as informações divulgadas no jornal; contextualizando com outras fontes, buscando mais dados junto à comunidade, construindo diálogos e interferindo nos discursos sociais. Jovens que frequentaram as salas de aula que estavam com as portas abertas para o Programa Jornal e Educação “Vamos Ler”.
O encerramento do Programa, na semana passada, levou ao palco de um teatro aberto ao público, discussões sobre a violência, os conflitos e a necessidade de refletir a cultura de paz, através de um musical, um teatro e linguagem de sinais.
Segurança no trânsito, preservação ambiental, sustentabilidade; o mundo, a cidade e as crianças; a leitura, o livro e o jornal; todos estavam traduzidos em poemas inéditos, criados a partir da união da inter e da transdisciplinaridade.
Uma nova maneira de contar a história “Os Três Porquinhos”, criada e encenada por crianças de 9 e 10 anos e suas professoras, alertando sobre a necessidade de equipamentos de segurança para realizar algum serviço em casa, na escola ou no trabalho.
A famosa música “Banho de Lua”, de Celly Campello, ganhou uma versão um pouco mais intelectual em “Banho de Cultura”. A encenação intitulada “Eclipse da Sabedoria” emocionou a plateia pela abordagem contemporânea utilizada pelos alunos que, ao som da música “Eclipse Of The Heart”, de Bonnie Tyler, acordaram o conhecimento e questionaram a ignorância, que tenta impedir o crescimento interno e a visão social.
Uma turma muito animada dançou e cantou um RAP para a administração pública do município, falando a respeito de todos os problemas estruturais das duas vilas onde moram.
A transdisciplinaridade valoriza o conhecimento compartilhado e a construção do novo a partir da soma dos conhecimentos individualizados. Os indivíduos compõem o todo. O conjunto é a soma das partes.
Se todos pensássemos da mesma forma, com quem iríamos compartilhar saberes? Se todos tivéssemos as mesmas ideias, para onde cresceríamos? Se todos seguíssemos o mesmo caminho, quem seria capaz de mostrar-nos novos horizontes?
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Artigo publicado no Portal NET Educação, no dia 28 de novembro de 2013.
E na Agência de Notícias Adital Jovem, no dia 02 de dezembro de 2013.