Opinião] Cidadania se aprende fazendo
CIDADANIA SE APRENDE FAZENDO
Um estudante, durante uma dinâmica, me perguntou de forma intrigante “por que a escola não nos ensina como lidar com questões do dia a dia?”
Desconfio que não seja o cérebro o único órgão do corpo humano que esteja pronto para desafiar, confrontar e lidar com situações cotidianas. Nossa leitura de mundo e a construção de nossa ética parece passar mais pela experiência do que pela consciência. Aprendemos o que é certo copiando modelos, experimentando, e não ouvindo discursos.
Na escola do nosso tempo, focada no cérebro, ética, responsabilidade e cidadania têm sido áreas encaradas tal qual disciplinas escolares das mais tradicionais são abordadas, tal qual a Matemática. O convite mais comum é “vamos aprender ética vendo as implicações legais de você cometer um delito?” Ou então, “vamos estudar a evolução dos Direitos Humanos na história do mundo?”
A evolução dos Direitos Humanos é, sem dúvida, um assunto interessante, mas não suficiente para que o estudante comece a construir uma escala de valores. Que tal abrir um espaço na escola para que os estudantes se expressem, com uma web-radio e, assim, criar um modelo de garantia de Direitos Humanos? Infelizmente, escola não cria modelos, mas repete conteúdos; raramente o aluno experimenta ou cria.
Enxergo na produção de comunicação por estudantes dentro da escola, seja de jornais, revistas, fanzines, rádio ou documentários uma oportunidade de se vivenciar a cidadania, e não de se ouvir falar sobre ela. Esse é um dos pressupostos da Educomunicação, esse novo campo de estudo e, sobretudo, de prática.
Se tratarmos os temas do cotidiano como disciplinas isoladas, a grade escolar não suportará em breve tantas aulas reivindicadas por seus defensores. Cidadania é algo transversal a tudo que se aprende na escola e na vida. Por isso, precisa funcionar por projetos, com experimentação e mão na massa de alunos e professores.
Aliás, para os docentes que se sentem “esvaziados” de funções num tempo de internet e tablets, a ética é algo ainda inerente e insubstituível ao papel do ser humano na educação. É na troca de experiências diárias com os estudantes que ela é construída – baseada no que se faz, e não no que se diz.
Tentando responder ao questionamento do meu estudante no primeiro parágrafo, talvez a melhor resposta seja: “porque a escola quer que você escute e memorize, e não questione ou se permita errar. Ela educa você, e raramente ‘com’ você”.
*Alexandre é jornalista e educador. É fundador do MEL (Media Education Lab) e autor do livro “Idade Mídia: a comunicação reinventada na escola” (Editora Aleph). Contato: alevoci@gmail.com.
Artigo publicado na coluna “Mídia e Educação”, na página JM na Educação, no Jornal da Manhã, em 05 de junho de 2013.