Do Contato à Ação: Uma grande reportagem – Parte 1

De hoje (03) até sexta-feira (06) estou publicando a reportagem ‘Do contato à ação’, resultado do Trabalho de Conclusão de Curso de Thayssen Ackler Bahls. Ela se formou em Jornalismo na Faculdade Secal (Ponta Grossa), em dezembro de 2011, e eu estive em sua banca. O tema é muito interessante e aconselho a leitura, pois trata da inclusão social de crianças com necessidades especiais. Thayssen utilizou o fotojornalismo para tornar esses jovens autores de sua vivência. Toda a reportagem está sendo divulgada também através da página ‘JM na Educação’, do Jornal da Manhã.Confiram!

Alunos tornam-se autores de sua história ao revelar seu cotidiano através da fotografia. (Foto: Thayssen Ackler Bahls)

OFICINAS DE FOTOGRAFIA REVELAM O POTENCIAL DE ALUNOS DA APAE

Thayssen Ackler Bahls (thaysse.acklerbahls@gmail.com)
Para contribuir no processo de inclusão de crianças especiais, em maio de 2011, teve início o projeto “Do contato à ação: Fotojornalismo como fator de Inclusão Social”, que ofertou oficinas de fotografia aos alunos da Escola de Educação Especial Maria de Lourdes Canziani -APAE de Ponta Grossa. As imagens resultantes integraram, em agosto, uma exposição na Câmara de Vereadores. Essa reportagem traz desde a interação dos alunos com as máquinas fotográficas até a exposição das melhores fotos. No caminho entre as oficinas e a mostra fotográfica, alguns personagens e histórias retratadas conduziram a reportagem ao tema “inclusão no mercado de trabalho”, campo onde por fim se dá o encontro entre eles, especiais, e nós.
O projeto de fotojornalismo iniciou dia 11 de maio. Sete crianças com déficit intelectual foram selecionadas para participar. A vice-diretora da APAE Ponta Grossa, Lindamir Korovisck, considera que o projeto foi de grande importância para os alunos e para a escola de educação especial: “Vejo como uma oportunidade ímpar, para que nossos alunos tenham acesso a outras mídias e também possam mostrar capacidade na integração em projetos diferenciados ofertados pela comunidade”, destaca.
O ser humano experimenta e reconhece o mundo a partir dos seus cinco sentidos. Por isso, o projeto se desenvolveu em cinco oficinas de sensibilização, cada uma delas com atividades orientadas através dos sentidos: olfato, paladar, tato, visão e audição.
A seleção das crianças que tinham potencial para participar dos encontros e horários de realização das atividades foram definidos por Edineia Aparecida Blum, pedagoga e coordenadora pedagógica da APAE. A escolha das crianças se deu a partir da faixa etária que o projeto exigia – entre 12 e 15 anos – e também por suas potencialidades em aprender algo novo. “Escolhemo aqueles alunos que se encontravam em um processo de aquisição de conhecimentos mais avançado, que já eram ou estavam em processo de alfabetização – sabendo ler e escrever, e que tivessem um nível de entendimento básico e necessário para o cumprimento das orientações do projeto”, esclarece Edineia.
Exercitando os cinco sentidos: Curiosos e atentos às explicações, aos poucos, os alunos se aproximavam da câmera. Tocavam, perguntavam e queriam saber tudo sobre ela. Todos se mostravam surpresos com a atividade e preocupados em como lidar com o novo objeto. Alguns apreciavam a máquina fotográfica pela primeira vez.
O tato, primeiro sentido a ser exercitado, serviu como estímulo para que aos poucos a curiosidade tomasse conta do ambiente escolar. Era possível ver no olhar de cada um as expectativas criadas diante de um objeto ainda desconhecido. A câmera fotográfica deu aos alunos uma sensação de liberdade e motivação.

Os alunos registram com imagens o trabalho dos colegas. (Foto: Thayssen Ackler Bahls)

O entusiasmo dos alunos com as atividades foi acompanhado desde o começo pela professora Gisele Slivinski. Ela conta que, após as oficinas, os alunos percorriam espaços da escola e comentavam sobre o que tinham feito no projeto. “Alegres e ansiosos, contavam onde tinham tirado as fotos. Diziam que a atividade era legal. O que mais emocionava, nessas conversas, era o fato de que a maioria dos alunos nunca tinha tido contato com uma câmera fotográfica”, comenta.
A partir da segunda oficina, todos já estavam mais acostumados com as câmeras e fazer fotografia já não parecia tão difícil. Foi então que o resolvemos exercitar um segundo sentido: a visão. Através de cartazes coloridos e canetinhas, alguns alunos podiam desenhar enquanto outros fotografavam os colegas de turma. Alguns estudantes, como Adriana Marina Mileski, ficaram um pouco tímidos ao serem fotografados. “Eu sou envergonhada. Ainda mais para tirar foto”, diz Adriana, baixando a cabeça. Diferente do colega, Antônio Carlos Elb, que parecia bem à vontade. Com a máquina fotográfica em mãos e um sorriso no rosto, Antônio gostava de fotografar os amigos nas mais variadas poses.
Pandeiros, garrafas pets e feijões formaram a combinação perfeita para começar a terceira oficina do projeto. Em ritmo de diversão e curiosidade, os alunos aproveitaram o “Dia do Desafio” realizado, em 26 de maio pelo Serviço Social do Comércio (SESC) Ponta Grossa, para fotografar. Enquanto todos os alunos da instituição andavam pelas ruas próximas à escola com instrumentos musicais improvisados, as câmeras atentas registravam todos os movimentos.
Os sons indicavam o caminho de exercício do terceiro sentido, a audição. A euforia era tanta que nem mesmo os professores puderam fugir dos futuros fotógrafos. Para a professora Gisela Bauer Gomes, os jovens pareciam determinados na tarefa de fotografar. “Eu gostei não só de ser fotografada, mas também de ver o potencial deles”, comenta.
Alunos produzem imagens nos jardins da escola: Árvores, flores e até mesmo os ninhos feitos de madeira para os passarinhos fizeram parte do cenário montado pelas crianças. A aproximação com a natureza trouxe à quarta oficina olhares atentos sobre o ambiente escolar. Nos jardins da escola a imaginação criou asas. Luis Fernando Maciel de Paula sentiu-se orgulhoso por ter fotografado uma das imagens mais comentadas: o Maracujá. Segundo ele, a imagem refletia o dia e a noite.Lucas Novaski Mattoso procurou expressar detalhes como a religiosidade e sua afeição pelas flores em suas fotografias.
Ao ar livre, alunos percorrem os arredores da escola e registram as paisagens, cores e sons. (Foto: Thayssen Ackler Bahls)

Também ao ar livre, os futuros fotógrafos exercitaram o quarto sentido, o olfato. Além do ar puro, a natureza também oferece os mais variados perfumes. Lucimara Aparecida dos Santos registrou as flores com cheiro de mel. “Eu gosto dessas flores de mel. São tão bonitas e minhas preferidas no jardim”, diz ela.
Na quinta e última oficina, os alunos tiveram a oportunidade de levar para casa algumas das fotos tiradas por eles, além de também selecionar e escolher as fotografias que iriam para a exposição. O quinto sentido, o paladar, que deveria ser exercitado não pode ser concluído. Por ser um ambiente com muitas crianças, além daquelas escolhidas para o projeto, a escola optou por não oferecer doces aos alunos.
>>Esta reportagem não pode ser reproduzida em outros meios sem a prévia autorização da autora. Contato: thaysse.acklerbahls@gmail.com

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