Uma reflexão sobre as Metas de Aprendizagem em TIC

Reflexão pautada na apresentação do professor Fernando Costa em webconferência realizada dia 12 de dezembro de 2013, na disciplina Currículo e Tecnologias, para os alunos do Mestrado em Educação e Tecnologias do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa

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Por Talita Moretto

Na sua apresentação sobre Metas de Aprendizagem em TIC, o professor Fernando Costa trouxe exemplos reais de situações onde o jovem, na sociedade, é apresentado à tecnologia. Destaca que crianças, com poucos anos de vida, que ainda não possuem todas as habilidades suficientes para se expressar oralmente, ficam entusiasmadas diante de um computador e todas as suas ações fascinantes. Lembra-se do estudante, que tem a possibilidade de encontrar na Internet todas as informações necessárias para um trabalho que vai apresentar na escola, mesmo estando fisicamente distante dos locais de origem da produção daquele material disponibilizado on-line.

São situações que nem sempre são consideradas pela escola que ainda possui um currículo formal centrado no professor e na transmissão de um conteúdo programático, sem olhar as mudanças que ocorrem, a cada dia, no entorno da escola e, consequentemente, sem adequar o programa curricular a essas mudanças, que afetam as formas de aprender do estudante.

Diante disso, contata-se que a escola continua fechada às possibilidades práticas advindas com o computador e com a Internet, pois está presa a um formato curricular construído anteriormente a essas inovações. Falta orientação aos professores e educadores sobre o que fazer com as possibilidades que a tecnologia traz para o ensino e a aprendizagem. E sem essa orientação (ou formação), esses profissionais não conseguem perceber a importância de reconhecer as habilidades e competências que o aluno adquire fora da escola.

Contudo, apenas o investimento na compra de aparelhos tecnológicos não é suficiente para uma mudança de mentalidade e para uma reformulação curricular que contemple as tecnologias. Torna-se necessário à escola refletir a respeito de quais competências (digitais) espera que os jovens adquiram e como elas podem ser trabalhadas. Com isso, surgem propostas para aperfeiçoar o ensino considerando o espaço global, o aluno atual e a escola enquanto formadora do cidadão.

Como exemplo, o projeto Metas de Aprendizagem (Portugal), o qual “insere-se na Estratégia Global de Desenvolvimento do Currículo Nacional que visa assegurar uma educação de qualidade e melhores resultados escolares nos diferentes níveis educativos”. As metas são definidas para cada ciclo, onde se coloca o desenvolvimento e a progressão esperados por ano de escolaridade, para cada área de conteúdo, disciplina e área disciplinar.

Existe também o Modelo “Meios-Fins”, o qual estabelece que deve haver uma relação coerente entre as ações propostas e os objetivos que se deseja alcançar, tendo por finalidade orientar as tarefas dos professores no uso das TIC em sala de aula.

Nessa discussão do uso das TIC na educação, alguns pressupostos precisam ser considerados. Um deles, muito importante, é que a aquisição de competências em TIC ajudará na conduta do aluno na sociedade e no mercado de trabalho. Outro ponto fundamental é considerar que os jovens apresentam uma relação natural com as tecnologias digitais, fator que motiva e induz o desenvolvimento intelectual e social. E o principal: entender que a aquisição e o desenvolvimento de competências digitais devem estar presentes ao longo de toda a escolaridade e não apenas nos últimos anos, como acontece em alguns casos vistos hoje. Por exemplo, no Brasil começou a ser implantado o uso de tablet em sala de aula, mas essa iniciativa não contemplou os primeiros ciclos.

Na webconferência, o professor Fernando Costa apresenta duas perspectivas diferentes sobre o lugar das TIC na educação: “As TIC como competências instrumentais ao serviço dos outros saberes disciplinares” e “As TIC como estratégia de desenvolvimento intelectual e social dos indivíduos”. Ambas incitam a reflexão: O que precisaria ser alterado nas nossas escolas para as podermos assumir como “estratégia de desenvolvimento intelectual e social dos indivíduos”?

Para responder a esta questão, recorro às competências em TIC que ainda não são contempladas dentro dos ambientes de ensino formais. Costa et al. (2010, p. 2) coloca que existem quatro áreas, que podem ser chamadas de competências transversais em TIC:

Informação: quando se desperta no aluno a capacidade de procurar e de tratar a informação de acordo com objetivos concretos: investigação, seleção, análise e síntese dos dados.

Comunicação: dar ao jovem o direito de comunicar, interagir e colaborar usando ferramentas e ambientes de comunicação em rede como estratégia de aprendizagem individual e como contributo para a aprendizagem dos outros.

Produção: mostrar ao estudante que ele tem habilidade para sistematizar conhecimento com base em processos de trabalho com recurso aos meios digitais disponíveis e de desenvolver produtos e práticas inovadores.

 Segurança: conduzir o jovem para o uso dos recursos digitais com ética, respeito às normas de segurança e aos direitos do autor, com criticidade e responsabilidade.

Acredito que a “Segurança” deveria ser a primeira da lista para, a partir dela, conduzir os alunos às formas de comunicação e produção com o apoio das TIC. De qualquer maneira, todas elas exigem uma mudança de postura do professor porque para se atingir o desenvolvimento intelectual e social dos indivíduos o educador precisa ver o aluno como um indivíduo com conhecimentos diferenciados e necessidades específicas, mobilizar a participação deste e, sobretudo, aceitar o ensino como uma prática colaborativa.

Muitas vezes, o que falta é a preparação adequada para que os professores saibam como utilizar os recursos digitais, de forma eficiente, em sala de aula. Outras vezes, falta autoconfiança e apoio dos órgãos superiores (seja dentro da escola ou nas esferas governamentais) para que o professor consiga perceber que essa conduta é natural e não prejudicial ao conteúdo que deve ser passado ou ao planejamento da disciplina. Acredito que falta orientação para o professor compreender que dar autonomia ao aluno não é tirar a dele; que as aulas que contemplam as TIC podem ser organizadas como um trabalho realizado em grupo, com mais contribuições, mais opiniões, mais ideias partilhadas, mais diálogo e, como resultado, mais conhecimento gerado com a contribuição de todos.

As metas de aprendizagem em TIC devem servir para o professor construir o referencial para a sua área específica, numa ótica de desenvolvimento global do aluno, permitindo-lhe compreender em que matérias, para que fins, quando e como será pertinente e adequado mobilizar as TIC no ensino.

Referências:

Costa, F.; Cruz, E.; Fradão, S.; Soares, F.; Belchior, M. & Trigo, V. (2010). Metas de Aprendizagem na área das TIC. in DGIDC-ME (2010). Metas de Aprendizagem. Lisboa: DGIDC/ME. Retirado de http://repositorio.ul.pt/handle/10451/6567

Ministério da Educação (2012, 20 de novembro). Ministro entrega tablets para iniciar formação de professor do ensino médio. Retirado de http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=18241:ministro-entrega-tablets-para-iniciar-formacao-de-professor-do-ensino-medio&catid=372

Referências utilizadas pelo professor Fernando Costa na apresentação para a webconferência:

Costa, Fernando (2010) Metas de Aprendizagem na área das TIC: Aprender Com Tecnologias. in Fernando Costa et al (2010). I Encontro Internacional TIC e Educação. Inovação Curricular com TIC. Lisboa. Instituto de Educaçãoo da Universidade de Lisboa. (931-936). (http://aprendercom.org/miragens/wp-content/uploads/2010/11/398.pdf)

Costa, F.; Cruz, E.; Fradão, S.; Soares, F.; Belchior, M. & Trigo, V. (2010). Metas de Aprendizagem na área das TIC. in DGIDC-ME (2010). Metas de Aprendizagem. Lisboa: DGIDC/ME. Retirado de http://repositorio.ul.pt/handle/10451/6567

Cruz, E. (2010). Contributos para a Integração das Tecnologias de Informação e Comunicação na Educação Pré-Escolar. In F. Costa, G. Miranda, J. Matos, I. Chagas & E. Cruz (Org.). Actas do I Encontro Internacional de TIC e Educação. Inovação Curricular com TIC (pp. 931-936). Lisboa: Instituto de Educação da Universidade de Lisboa.

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