Texto crítico] Abrindo caminhos para as tecnologias na aprendizagem
Uma breve reflexão sobre qual o papel que as tecnologias podem ter nas aprendizagens e/ou dinâmicas de uma determinada área curricular ou não curricular, como bibliotecas e salas de apoio
Por Talita Moretto
Neste século, a grande questão que preocupa quem está na área educacional é a presença massiva das tecnologias na sociedade. A gama de informações disponíveis hoje para usufruto de qualquer cidadão pode ser a mais séria dessas preocupações, especialmente, dos educadores, os quais assumiram a função de, além de ensinar, guiar os educandos através de uma formação pautada no currículo e no mundo.
Diante desse cenário, reflete-se sobre a qualidade da informação e a confiança nas fontes que são, em sua maioria, midiáticas. Por isso, o planejamento curricular que consiga se unir às novas tecnologias a fim de promover uma aprendizagem atual, significativa e válida aos alunos é o principal feito para haver uma educação de qualidade a todos.
Coutinho (2006, p. 1) traz para a discussão a necessidade de pensar na Tecnologia Educativa (TE), a qual é caracterizada não pelo simples uso de meios tecnológicos, “mas como uma forma sistemática de conceber, gerir e avaliar o processo de ensino aprendizagem em função de metas e objetivos educacionais perfeitamente definidos”. Entendida esta concepção, tornar-se-á mais fácil, a qualquer professor, encontrar o papel que as tecnologias podem assumir em uma determinada prática em sala de aula.
De acordo com Silva (1998, p. 48, citado por Coutinho, 2006, p. 3), “a TE analisa o currículo (prescrito, apresentado e realizado) em termos comunicacionais (códigos, discursos, linguagens, direções e contextos) e preocupa-se em investigar o desenho das estratégias comunicacionais tendo em vista a intervenção no processo educativo com um sentido de optimização, ou seja, conseguir o melhor em função dos objetivos propostos pela comunidade educativa”.
A tecnologia irá assumir papeis diferentes em cada área ou atividade programática de uma disciplina curricular, sua principal função é a de aperfeiçoar as práticas de ensino contemplando o aluno, a escola e as suas vivências. Não será bem sucedido aquele que pretende ensinar sem considerar a bagagem histórica, cultural e social do indivíduo que frequenta as aulas, imerso este em uma comunidade midiática. O professor necessitará entender as relações estabelecidas entre o educando e as influências tecnológicas fora da sala de aula e perceber como as mesmas são levadas para o contexto escolar.
A “nova sociedade”, como bem destaca Coutinho (2006), pode ter múltiplas denominações: sociedade da informação, em rede, da aprendizagem, do conhecimento; destacando-se também a sociedade multitelas e a do espetáculo, como há tempos é chamada, especialmente, pelos estudiosos de comunicação social, preocupados com a espetacularização da informação em busca do ibope. Surgiu também, há pouco tempo, o termo “infontenimento”, que seria uma tradução para união da “informação com o entretenimento”. São situações – realidades sociais – que devem preocupar o educador, levando o seu olhar para a emergência de novos modelos comunicacionais que reconfiguram o saber, exigindo uma nova ordem educativa. Vivemos hoje em uma sociedade global, com alunos globais frequentando ambientes de ensino formais. Este caminho precisa ganhar outro rumo.
Wilson, Grizzle, Tuazon, Akyempong, & Cheung (2013, p. 18) trazem para o debate os conceitos da alfabetização informacional e da midiática. “A informacional enfatiza a importância do acesso à informação e a avaliação do uso ético dessa informação. (…) a midiática enfatiza a capacidade de compreender as funções da mídia, de avaliar como essas funções são desempenhadas e de engajar-se racionalmente junto às mídias com vistas à autoexpressão”.
De acordo com Altenfelder, Viana, Blásis, Estima & Bertocchi (2011), é necessário aproximar a cultura digital e o currículo escolar, tendo como interlocutores e parceiros os gestores, os professores e os alunos. Mais que isso, fomentar ações e reflexões entre os educadores acerca do que as tecnologias digitais representam no cotidiano de todos e refletir sobre a necessidade e as possibilidades de uma efetiva presença das TIC na escola e suas implicações para o currículo, considerando-as nas esferas social, humana e conceitual.
No Brasil existe o ProInfo Integrado – programa de formação voltada para o uso didático-pedagógico das TIC no cotidiano escolar, articulado à distribuição dos equipamentos tecnológicos nas escolas e à oferta de conteúdos e recursos multimídia e digitais – que oferece cursos de formação continuada para professores e gestores das escolas públicas, dentre eles: “Tecnologias na Educação”, que visa oferecer subsídios teórico-metodológicos práticos; “Elaboração de Projetos”, a fim de capacitar os professores para identificar as contribuições das TIC para o desenvolvimento de projetos em salas de aula e analisar o currículo na perspectiva da integração com as TIC; e também o “Redes de Aprendizagem”, para preparar os professores para compreenderem o papel da escola frente à cultura digital, dando-lhes condições de utilizarem as novas mídias sociais no ensino.
Além disso, existe o Guia de Tecnologias do Ministério da Educação (MEC). Com essa publicação, o Ministério pretende oferecer aos gestores educacionais uma ferramenta a mais que os auxilie na aquisição de materiais e tecnologias para uso nas escolas públicas brasileiras.
São iniciativas (embora nem sempre funcionem como descrito no papel) que procuram dar subsídios aos professores para agregar as TIC ao planejamento curricular, mostrando o papel que a tecnologia pode ter no ensino: o de aliada.
Referências:
Altenfelder, A. H.; Viana, V.; Blásis, E.; Estima, R. I. V. B.; & Bertocchi, S. (2011). Ensinar e Aprender no Mundo Digital: Fundamentos para a prática pedagógica na cultura digital. Cenpec: São Paulo. Retirado de http://cenpec.org.br/biblioteca/educacao/producoes-cenpec/ensinar-e-aprender-no-mundo-digital-fundamentos-para-a-pratica-pedagogica-na-cultura-digital
Correia, A. P. S.; Dias, P. (1998). A evolução dos paradigmas educacionais à luz das teorias curriculares in Revista Portuguesa de Educação. ISSN 0871-9187. 11:1 (1998) 113-122. Retirado de http://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/490
Coutinho, C.P. (2006). Tecnologia Educativa e Currículo: caminhos que se cruzam ou se bifurcam? In Colóquio sobre Questões Curriculares, 7, Braga, Portugal, 2006 – “Globalização e (des)igualdades : os desafios curriculares : actas”. [Braga : Instituto de Educação e Psicologia da Universidade do Minho, 2006]. Retirado de http://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/6468
Wilson, C.; Grizzle, A.; Tuazon, R.; Akyempong, K.; & Cheung, C. K. (2013). Alfabetização midiática e informacional: currículo para formação de professores. UNESCO: Brasília. Retirado de http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/about-this-office/single-view/news/media_information_literacy_curriculum_for_teachers_in_portuguese_pdf_only/#.Up5ry8RDs9Y
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Texto produzido para a disciplina “Currículo e Tecnologias”, no Mestrado em Educação e TIC – Universidade de Lisboa (turma 2013-2015).