OPINIÃO] Tablets para escolas públicas. Bom ou ruim?

No último dia 16 de janeiro, o Movimento Todos Pela Educação reproduziu o texto publicado pelo Valor Online – PAÍS DEVE ESTIMULAR TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO, DIZ MERCADANTE. Matéria trazia a informação de que 600 mil tablets devem ser distribuídos neste ano aos professores.

Fonte Imagem: http://blogs.ne10.uol.com.br/mundobit
Fonte Imagem: http://blogs.ne10.uol.com.br/mundobit

“Segundo o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, diante da baixa avaliação qualitativa, o foco da ação será o ensino médio. Os professores receberão, já salvos nos aparelhos, livros didáticos digitais, textos sobre pedagogia e inclusive as aulas da Khan Academy, fundação sem fins lucrativos responsável por, na avaliação do ministério, “um dos mais democráticos e revolucionários métodos de educação digital”. A Khan disponibiliza hoje cerca de 3,8 mil vídeoaulas na internet. A notícia está em destaque. Fato que hoje o Olhar Digital também publicou sobre o assunto.

“Nada substitui a relação entre professor e aluno, mas precisamos dar novos instrumentos para aprimorar a qualidade da educação nas salas de aula”, discursou Mercadante, durante seminário, em Brasília, com Salman Khan. Atualmente, o ensino, por exemplo, de matemática, física, química e biologia por meio das ações da fundação Khan Academy já foi traduzido e pode ser acessado pelos professores no portal do MEC na internet. O ministro anunciou ainda que o próximo passo será ampliar o projeto a universidades federais. A ideia é aumentar o acesso a aulas, palestras e cursos de ensino superior que devem ser publicados na internet.”

Não vou colocar em dúvida o ato de disponibilizar aulas gratuitas de qualidade, de padrão internacional, o que acho válido e eficaz (conheço muitas pessoas que estudam desta forma e garantem os benefícios), nem mesmo quero questionar o quanto é importante ter instrumentos tecnológicos na escola. Eu quero é levantar uma reflexão sobre o ensino público no Brasil hoje.

O que percebo é que a inclusão de tecnologia nos ambientes de aprendizagem, embora necessária, é prematura e sem planejamento. Não há mudança de currículo, nem de carga-horária; os livros didáticos, a distribuição das disciplinas e o tempo do professor com os alunos permanecem do mesmo jeitinho de quando eu ia para a escola, há mais de 10 anos, uma época em que nem sonhávamos que a tecnologia apresentaria tantos avanços.

Um amigo, que é pai de dois meninos em idade escolar (Ensino Fundamental I), comentou recentemente que a escola onde eles estudam (particular) começaria a usar um tablet por aluno neste ano, e que os pais precisariam desembolsar um valor (não é baixo) para aquisição do equipamento e outros materiais. Ao me contar isso e questionar se será bom ou ruim, ele colocou: “Vamos pagar caro e colocar um tablet na mão de uma criança. Nem vai durar muito tempo” – referindo-se que seria um brinquedo nas mãos dos pequenos.

Logo, professores e alunos da rede pública ganharão seus tablets. Eu pergunto: Os alunos estão preparados para usá-los com objetivos de ensino? O professor está preparado para manusear o instrumento, organizar suas aulas e conduzi-las em sala de aula, considerando os 50 minutos de sua disciplina, sendo que destes, 15 minutos (ou mais, em um palpite meu) serão utilizados apenas para o alunos pegarem, ligarem e entenderem o que será feito com o aparato tecnológico? [Será necessário também esperar passar a empolgação de todos] Qual tipo [e quando] de formação será dada aos professores para que consigam adequar os tablets à realidade de sala de aula? E é necessário. Bem como é necessário existirem aulas para os próprios alunos (como existem aulas de informática, na frente de um computador). Por que não?

A inserção de tecnologia na educação deve acontecer sim e este processo precisa ser acelerado. Porém, não podemos nos enganar com “pedrinhas brilhantes” [presentinhos]. O ensino público no país continua carente de investimento e inovação. As cotas são exemplos disso; se o ensino fosse bom o suficiente, não precisaríamos delas.

O que será de um tablet na mão de um adolescente que está em meio a um turbilhão de informações e estímulos, diante de um professor que não foi preparado para usar este aparelho tão interessante?

Tenho minhas dúvidas sobre a forma que tecnologia está sendo empurrada para as escolas. Basta fazer uma breve pesquisa online e encontramos milhares de notícias falando sobre a quantidade de computadores que estão parados, sem uso, nas escolas, por diversos motivos que vão além da vontade dos educadores em utilizar os aparelhos.

Enfim, algo para refletir. Fui além do ponto de partida da matéria do Valor Online porque imagino que esse assunto será a próxima “manchete” da educação e porque acredito que só mandar os aparelhos para a escola não é inserir tecnologia no ensino.

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6 thoughts on “OPINIÃO] Tablets para escolas públicas. Bom ou ruim?

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      Talita, gostei do post! Concordo com você. A introdução de tablets dentro da escola é algo fantástico, desde que acompanhada com uma estratégia de uso e conteúdo digital relevante. Acho que o Brasil está no caminho certo!

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        Olá Carlos,
        com certeza é fantástico e vai contribuir muito nas aulas, desde que outras inovações façam parte do processo. Concordo com sua colocação.
        Obrigada pela visita!

        Abraços,
        Talita.

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      Olá Talita! Penso como vc. Acho que falta capacitação. Agora, eu pergunto a vc: se é inevitável e desejável que a tecnologia seja utilizada em sala de aula – e também fora dela – como capacitar esses professores? Existem empresas e pessoas capacitadas para isso?

      Abs

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        Olá,
        existem sim, vários institutos/instituições que oferecem cursos de capacitação no uso de tecnologia na educação, mas vai depender do governo investir nisso. Talvez montar uma equipe própria para essas formações. De qualquer maneira, é responsabilidade das autoridades fazer com que isso aconteça.
        Obrigada pela visita.

        Abraços,
        Talita.

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      se diante de tanta tecnologia porque o índice de aprendizado foi tão baixo? Ainda é cedo para comemorar bons resultados! Para mim isso é uma forma de diminuir a evasão escolar, cedendo ao modismo.

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        Olá Giovanna,
        é esta reflexão que estou propondo com este texto: como usar, quando usar e porquê usar tecnologia a escola? São questões que vão além de ser o aparto tecnológico. O Índice de Aprendizado não vai aumentar se o ensino – independente de tecnologia – não melhorar.
        Obrigada pelo comentário.

        Abraços,
        Talita.

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