Opinião] Será que a voz da juventude finalmente será ouvida?

“A criação do Participatório é um passo importante do Governo para aproximar os jovens das decisões políticas e sociais, ouvindo o que este público tem a dizer sobre as condições que lhes são impostas e que estão relacionados ao seu bem-estar, à sua saúde, à educação e à participação enquanto cidadãos”

Imagem: fgxtra.com
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Por Talita Moretto

Na semana passada (no dia 18 de julho), o Governo Federal lançou o Participatório – Observatório Participativo da Juventude, projeto que conta com o apoio da Secretaria Nacional de Juventude (SNJ) e da Secretaria Geral da Presidência da República. Trata-se de uma plataforma virtual interativa cuja proposta é estimular a participação por meio de debates e mobilizações e produzir conhecimentos, além de divulgar conteúdos relacionados às políticas juvenis. Ele pretende promover espaços de compartilhamento em ambientes virtuais, mobilizar a juventude e fazer publicidade do conhecimento em rede.

Não posso deixar de relacionar esta iniciativa com o potencial juvenil nas mídias digitais, atitude que está ecoando na sociedade.

Este é um passo importante do Governo para aproximar os jovens das decisões políticas e sociais, ouvindo o que este público tem a dizer sobre as condições que lhes são impostas e que estão relacionados ao seu bem-estar, à sua saúde, à educação e à participação enquanto cidadãos ativos que merecem “conhecer” para poder agir junto às autoridades.

Com certeza teremos que esperar o projeto começar a funcionar plenamente para medir os resultados e avaliar se o público-alvo terá mesmo a chance de opinar e contribuir com as políticas públicas. Contudo, acredito ser uma iniciativa estimulante e uma ferramenta poderosa se os jovens souberem utilizá-la a seu favor.

Fazendo um paralelo com este acontecimento, o Diretor do Projeto do Milênio e professor na Singularity University — fundada pela NASA e pelo Google nos Estados Unidos — o venezuelano José Cordeiro, que esteve no Brasil para o 12º Congresso do Ensino Privado (promovido pelo Sindicato do Ensino Privado (Sinepe), do Rio Grande do Sul), falou em entrevista para o jornal Zero Hora (RS) que os professores do futuro serão “facilitadores e orientadores, guiando as possibilidades dos alunos individualmente, mas também em grupos”.

Vejo uma relação entre a fala de Cordeiro e o Participatório. Com o projeto, a SNJ “pretende ampliar a capacidade de articular o conjunto de ferramentas que viabilizam e potencializam o diálogo com a sociedade civil, estimulando o crescimento de um cenário de comunicação e interação não somente com jovens, mas com gestores, pesquisadores e demais formadores de opinião e articuladores de políticas públicas para a juventude”. Este objetivo reflete-se na expectativa de Cordeiro, quando coloca os professores na função de facilitadores, orientadores e, também, mediadores do conhecimento e aprendizado do aluno.

Ao analisarmos a trajetória das novas tecnologias da informação e comunicação na sociedade, percebemos que quando elas começaram a invadir os espaços sociais, educadores e as autoridades governamentais não perceberam, de imediato, que essa “invasão” também iria atingir os espaços educativos. Demorou-se para aceitar que as tecnologias iriam influenciar o processo ensino-aprendizagem e pouco se fez para acompanhar os passos que adentraram tão rapidamente os corredores escolares.

De repente, professores entraram em suas salas de aula e encontraram outros alunos, novos espectadores com uma nova demanda. Estes jovens aprendizes passaram a ter voz e colocarem-se como protagonistas do seu aprender.

Junto com esse perfil midiático, reconhecemos uma juventude mais informada e atuante nos espaços de convívio. Cidadãos que buscam a aquisição de conhecimento não somente em livros didáticos ou em textos indicados pelos seus mestres. Os jovens que se formaram com o caminhar das tecnologias na sociedade, hoje buscam, sozinhos, o que ler. Eles conhecem a história, a geografia, a ciência, a arte, a matemática, em textos de circulação social, que podem estar em jornais impressos, na Internet, em outdoors, em imagens e diálogos pulverizados na sociedade.

É compreensível o receio de educadores que temem por seus alunos não terem mais curiosidade pelos conteúdos escolares, porém, eles têm sim, só estão precisando de caminhos conectados ao seu imediatismo e que possam vincular o ensino escolar com o convívio social individual. Os estudantes ainda precisam, e querem aprender com seus professores, apenas pedem (algumas vezes sem voz aparente) para serem reconhecidos no seu potencial de busca autônoma, fora dos muros escolares. O cidadão midiático quer respostas e o direito de contestá-las, colocando o seu ponto de vista diante daquilo que aprendeu.

Quando todos os tipos de informação são entregues aos alunos, de qualquer idade, aproximando o ensino escolar com a conduta social, formamos jovens protagonistas de suas vidas, eles reconhecem-se como membros de uma sociedade até então considerada de adultos, de pessoas mais velhas e detentoras das decisões. Problemas sociais devem ser debatidos com os estudantes, pois eles participam disso tanto quanto seus pais e avós.

Experimentar recursos tecnológicos, aproximar-se das mídias, não significa abandonar “antigas receitas” para se ensinar. O que se espera é que professores e sociedade consigam dialogar com essas inovações visando ao enriquecimento do processo ensino-aprendizagem.

Percebo, claramente, uma necessidade tanto das instituições educativas quando das políticas, de ouvir, mais do que a de falar. Passou-se o tempo em que alguns poucos detinham a sabedoria e guiavam os demais. Estamos dentro de um cenário com muitos formadores de opinião e muito conteúdo a ser compartilhado. Acredito que tentar ensinar algo a alguém sem considerar o quanto esta pessoa já conhece, é ignorar a manifestação do saber.

Termino este artigo com uma frase para reflexão:“Age idiotamente aquele que pretende ensinar ao aluno não quanto ele pode aprender, mas quanto ele próprio deseja ”, disse Comênio, filósofo tcheco que combateu o sistema medieval, defendeu o ensino de “tudo para todos” e foi o primeiro teórico a respeitar a inteligência e os sentimentos da criança.

 Net-EducacaoArtigo publicado no Portal NET Educação, no dia 22 de julho de 2013.

Adital-JovemE na Agência de Notícias Adital Jovem, no dia 24 de julho de 2013.

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