Opinião] O que eu vejo nas ruas é o protagonismo juvenil

“Observo com atenção todas as imagens divulgadas nos veículos midiáticos, e sabem quem eu vi em todas as manifestações? Jovens, muitos poucos que não Jovens”

Registros: Thiago Terada, das manifestações em Ponta Grossa-PR, nos dias 17 e 20 de junho.

Por Talita Moretto

Pode parecer repetitivo falar de manifestações sociais neste momento em que o assunto mais discutido nos meios de comunicação é este – eu mesmas pensei várias vezes nisso -, mas esta semana, ao saber que uma professora utilizou as matérias publicadas no jornal local para discutir com seus alunos de ensino médio o que é, como funciona, o que motiva e qual a conduta dos manifestantes, percebi que é o momento de ressaltar como o acesso à educação dá autonomia para questionar os caminhos que a sociedade nos impõe, e promove, claramente, o protagonismo juvenil.

Observo com atenção todas as imagens divulgadas nos veículos midiáticos, e sabem quem eu vi em todas as manifestações? Jovens, muitos poucos que não Jovens. Refiro-me a jovens mesmo, nos seus 17, 18, vinte e poucos anos (tudo bem, alguns com pouco mais, mas não percebo, na multidão, rostos com expressões muito além dos 30).

Por que os jovens estão lá? Porque eles têm acesso à mídia, leem, são informados, acompanham as discussões políticas e sociais, sabem que podem reivindicar, sabem que podem exigir mudanças; porque foram ensinados que quando alguma coisa parece errada, é necessário questioná-la. E só podemos questionar o que conhecemos.

Mais uma vez, ressalto que apoio o professor que utiliza mídia em sala de aula. Dar informação para crianças, adolescentes e, consequentemente, seus familiares, é mostrar que eles estão aqui, neste mesmo mundo, nesta mesma sociedade, mesmo que ainda não votem ou dirijam um carro. Ser cidadão é participar. Uma nação não se faz com um único governante.

Os protestos iniciaram no dia 13 de junho com a reivindicação da redução da tarifa de transporte público em São Paulo, e “contaminou” a Internet. Os jovens se uniram e mobilizaram-se via redes sociais para um movimento muito maior, com mais força, por todo o país, afinal, não apenas a maior cidade do país tem problemas. É claro que em minha vida nada interfere o que acontece com o transporte de São Paulo, mas interfere sim a direção do ônibus que cruza a minha frente diariamente.

É consigo que as pessoas se preocupam, sempre, mas neste momento todos perceberam que o problema de um era do outro também – só muda o ponto no mapa -, então por que não unir-se, “se preocupar” juntos e mostrar que em rede é possível lutar por mudanças?

Acontece que à medida que as manifestações ganham apoio nacional, diversos sites, ferramentas e blogs novos surgem com o intuito de auxiliar na denúncia e mobilização. Como a plataforma “Ushahidi”, um mapa colaborativo iniciado pelo blog #protestobr, que reúne denúncias de violência e conflitos durante o que vem sendo chamado de “Revolta do Vinagre”. O site colaborativo “No Movimento” publica imagens feitas por todo o país e divulga uma lista de advogados voluntários disponíveis em casos de necessidade de auxílio jurídico. O blog “Brazilian Protests” promete publicar “a verdade” sobre as manifestações no Brasil em inglês para quem não fala português. O site #vemprarua também reúne informações sobre as manifestações e cria um mapa colaborativo.

Já é sabido que as mobilizações foram possíveis porque existe um mundo virtual capaz de conectar pessoas em diferentes espaços e tempos. E essas pessoas usaram tão bem a mídia que conseguiram tirar os manifestantes do “teclado” e trazer para o mundo off-line.

Estou vendo, nas ruas, jovens educados. Não estou me referindo à boa educação da cordialidade e respeito, mas educados porque têm acesso à educação. Palavra esta que muitos não sabem, mas significa “ensinar e aprender”. Um processo é educativo quando você adquire um conhecimento novo e contribui com o seu. Isso só é possível através de uma relação de diálogo (o que se pressupõe várias vozes no discurso) e colaboração.

Um manifestante, sozinho, não seria ouvido, mas várias vozes falam mais alto. Quando você diz em voz alta o que está em seus pensamentos, parece que faz mais sentido, não?

Esta semana, durante um café com colegas de trabalho, uma delas perguntou por que não fomos à manifestação e, diante da nossa negação, ela (com sua empolgação dos 19) falou: “Vocês são muito velhas!”, em tom humorado.

Realmente, me senti um pouco velha mesmo. Eu tinha tantas tarefas a serem executadas naquele dia que só percebi que pessoas reuniam-se na praça em frente ao meu local de trabalho, quando saí de lá correndo para não perder o compromisso já agendado. Mal olhei para os manifestantes nessa minha correria.

Respondendo à pergunta inicial: não fui para as ruas protestar pelas causas que acredito serem urgentes (sim, concordo com todos os motivos que levam as pessoas a se unirem neste momento) porque eu não iria aceitar a minha conduta pós-protesto. Não vejo sentido em fazer passeatas, erguer cartazes, gritar para ser ouvida, para ao final de tudo isso voltar para minha casa, para o mesmo lugar, com as mesmas condições, de antes. Eu estaria cansada, e teria trabalho para fazer, e se eu não fizer o trabalho, eu não recebo. Não recebendo, não pago as contas; os juros chegam. Mesmo que eu saiba que são abusivos, elevados e injustos, preciso pagar, é a regra. Quem não paga, fica com o nome “sujo” e se sente “um lixo” porque quem deve na praça não é enquadrado nos arquivos como “bom cidadão”. Não sei qual seria a solução, mas devo culpar-me por pensar assim?

De qualquer forma, ouço agora os gritos lá fora e sei que, mesmo com a chuva e o frio que faz fora do meu quarto, sem carro e sem ônibus, todos “andam” pelas ruas da cidade clamando por condições sociais mais dignas.

 Net-EducacaoArtigo publicado no Portal NET Educação, no dia 21 de junho de 2013.

Adital-JovemE na Agência de Notícias Adital Jovem, no dia 23 de maio de 2013.

 

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