OPINIÃO: O drama da redes sociais [virtuais]
Nos meses de junho e julho foram divulgadas algumas pesquisas sobre o comportamento de jovens na internet, informações que chamaram minha atenção pela pequena amostragem de dados, número ínfimo de pessoas consultadas, espaço territorial restrito e, também, resultados um pouco confusos.
De acordo com um pesquisa da McAfee, 70% dos jovens de 13 a 17 anos admitem que escondem as suas atividades na web (eu pergunto: só na web?). Em 2010 eram 45% (ok, aumentou). O estudo mostra que 53% dos adolescentes apagam o histórico do navegador para camuflar as atividades, enquanto 46% fecham a janela na hora que seus pais passam por perto do computador. Além do conteúdo não indicado, 15% dos jovens também admitem já terem hackeado alguma conta em redes sociais e 31% baixaram filmes ou música pirata. Quanto aos pais, quase metade de um total de dois mil entrevistados, acham que sabem tudo o que os filhos acessam na internet.
Eu descobri, há duas semanas, que desde o ano passado é permitido jovens de 13 anos (antes era 18 a idade mínima) terem uma conta em uma plataforma digital (como Facebook e Twitter). Daí a questão: se julgados ainda imaturos para administrar uma rede, já que foram alvo de pesquisa, por que lhes é permitido ter uma? Eu não me surpreendo que eles escondam o que fazem dos pais. Adolescentes não camuflam apenas suas atividades no mundo virtual, mas, como próprio da idade, na vida fora das telas também. Por que isso nunca foi motivo preocupante de estudo? Moro sozinha desde os meus 18 e garanto que minha mãe não sabia de tudo que eu fazia na época da universidade. Isso não me fez uma péssima filha, aluna ou pessoa. Vamos pesquisar o que os adultos camuflam para entender o porquê de os jovens esconderem-se da aprovação dos pais.
Não descarto a gravidade em hackear contas, como foi revelado na pesquisa, isso mostra a falta de conhecimento do que é certo e errado de acordo com as leis civis e de conduta também – minha opinião -, mas condenar os jovens por baixar filmes e músicas piratas é como dizer: “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”. Mudar esta atitude exige reeducar toda a população, independente da idade. Afinal, já que é crime baixar esses arquivos, porque existem tantos programas gratuitos que fazem esse serviço? Alguém pesquisou sobre isso, consultou os desenvolvedores? Alguém pensou em proibir esses programas, com regras rígidas e que funcionem, é claro? Hummmmm.
O fato de muitos pais não acompanharem o que os filhos fazem na internet é decorrente da falta de conhecimento ou habilidade com a tecnologia, em alguns casos por desinteresse. Mas a ação de camuflar as atividades não é mérito apenas de uma rede social virtual; precisamos estar cientes disso. Atitudes na internet refletem o que é feito fora dela também. Atenção!
Vamos em frente.
Li outra pesquisa. Esta revela que sem redes sociais (cita como exemplo Facebook, Twitter e Google+) 18% dos adolescentes dos Estados Unidos parariam de se comunicar porque eles não sabem mais o que é comunicação fora do ambiente virtual. De acordo com os resultados, o e-mail e o telefone celular são os preferidos, usados por 93% dos entrevistados. Depois vem Facebook (90%), YouTube (74%) e Skype (47%). “A empresa de análises AWeber falou com 984 estudantes para entender melhor a relação deles com a tecnologia”. Como uma pesquisa com 984 pessoas, apenas nos Estados Unidos, pode apresentar dados confiáveis? E continua: “Para cada item há um horário e um tipo de uso considerado mais apropriado pelos adolescentes. O celular, por exemplo, não é abandonado nem mesmo durante encontros amorosos. Ao acordar, é a vez do e-mail e, ao dormir, do Skype. A conversa cara a cara só é predominante durante o almoço, quando 96% deles escolhem se encontrar pessoalmente”. Eu, por exemplo, estou conectada o dia todo no Facebook; uso o skype para conversar, quando necessário, com alguém distante fisicamente de mim – porque é mais barato que usar telefone -; converso com as pessoas muito mais por e-mail do que pessoalmente; e mesmo assim continuo sendo extrovertida, falante e tenho um monte de amigos feitos de carne e osso. Não sou tão velha assim, me enquadro na Geração Y, mas sei o momento de desconectar.
Tem mais: o estudo mostrou ainda que 6% escreveriam mais cartas se não tivessem celulares (óbvio!), 14% acreditam que a conversa feita pessoalmente substituiria as redes sociais (mais óbvio ainda!), 43% trocariam uma rede social que morreu por outra qualquer (com certeza!) e 6% acham que os telefones fixos poderiam substituir os móveis (poderiam não, já substituem!). Bom, se esses dados são ruins, podemos fazer um teste: cancela a internet de todo mundo e corta o sinal dos celulares. Viveremos felizes para sempre agora?
Mas minhas leituras não acabaram por aí.
Eis que me deparo com um infográfico sobre as consequências do cyberbullying feito a partir de um estudo realizado peloportal de educação Online College. Segundo relatório apresentado, 42% dos adolescentes que têm acesso à internet reportaram cyberbullying no último ano. Destes, um em cada três sofreram ameaças na internet. Segundo a pesquisa: “No Facebook existem 7,5 milhões de cadastrados abaixo dos 13 anos, destes, um em cada dez já sofreram bullying na rede social. No entanto, 81% deles acreditam que é mais fácil fugir do bullying virtual do que do real. O estudo ainda descobriu que os jovens que sofrem bullying ou cyberbullying estão duas vezes mais propensos a cometer suicídio. Com o crescimento da internet, os suicídios entre os jovens cresceram muito, apesar disso, a pesquisa mostra que 90% dos jovens que sofrem cyberbullying ignoram as agressões. Mas, apenas dois em cada cinco adolescentes contam aos seus pais que estão passando por experiências desagradáveis na rede”.
Que confusão! A pesquisa, assim apresentada, não esclarece se é um problema ou não, se bullying virtual é mais grave que o pessoal, ou não. Se 90% não se importam com ele, então não é tão grave assim. Isso? Devemos parar de usar redes sociais virtuais para evitar o bullying, ou também não é isso? Porém, se puxarmos na memória vamos recordar que esse tipo de “perseguição” sempre existiu, só não tinha esse nome e fama. Se mudar o nome continuará existindo?
Essas pesquisas nos fazem odiar a internet, vê-la como o “mal do século”, a pensar e repensar sobre nossas atitudes quando protegidos por uma tela. Essas pesquisas deixam os pais frágeis, sentindo-se impotentes e ameaçados pela grande teia. Ainda bem que estou aqui para acalmá-los. Agora vocês esqueçam tudo que leram acima porque enquanto eu escrevia este artigo chegou uma notícia quentinha!
Uma pesquisa “recente” (reparem que todas são recentes) revelou que 52% dos usuários da maior rede social do mundo planejam passar menos tempo com ela nos próximos meses. Rá! Pronto, o Facebook está morrendo, igual aconteceu com o Orkut! … Será?
O levantamento da SodaHead (mais uma pesquisadora na área) mostra que apenas 36% dos internautas com perfil no Facebook pretendem gastar a mesma quantidade de tempo com o site futuramente. Somente 10% acessam a rede constantemente e 37% admitiram que sequer voltam à página todos os dias. O estudo mostra resultados ainda “mais tristes para Mark Zuckerberg”: 73% dos entrevistados acreditam que outra rede social pode eclipsar (todos sabem o que significa um eclipse, não é?) o Facebook, sendo que 61% deles já são adeptos a alternativas. Somente 7% dos usuários do Facebook permanecem fiéis a ele, enquanto 23% também possuem perfis em outras redes e 9% dizem estar em muitas (e a novidade ficou onde?).
O que pensar sobre tudo isso? Aposto que se eu abrir o meu e-mail agora mesmo lá estarão mais algumas “pesquisas recentes” a respeito de mundo virtual, redes sociais (que a maioria da população e críticos do tema ainda não compreendem o que são), internet e seus perigos, internet e suas vantagens, etc.
Como este texto é meu e posso expressar minha OPINIÃO (Dicionário: Opinião = modo de pensar, de julgar; pensamento), farei:
Pais, vocês ainda são responsáveis por educar seus filhos, e educação é guiar, ensinar, conduzir. Conheçam as mídias digitais, saibam o que é rede social, utilizem a internet e orientem a navegação. O mundo virtual não é pior do que é real. Quando não conhecemos o caminho, seja de pedras, terra, asfalto ou alguns pixels, todos são igualmente nebulosos. A Internet veio para ficar, e seus jovens filhos a adoram. Não negue o espaço deles na atual sociedade em rede – virtual e palpável.
Professores, o mesmo recado. A web traz um rico mundo para pesquisa, com informações boas sim, e verdadeiras quando seus alunos sabem onde e como pesquisá-las. Lembrem-se que a apropriação de conteúdo alheio, as informações falsas, a técnica do Ctrl+C – Ctrl+V também podem estar no papel, não apenas no teclado.
Vamos nos conectar e aprender uns com os outros. Quando o nosso “bando” (rede) mudar de plataforma, decidimos se vamos junto ou não. Temos o poder de escolha, o domínio e a responsabilidade pelo o que fazemos. O mundo virtual é real, não somos avatares, então não vamos agir como tais, mas também não precisamos tapar o sol com a peneira: todos nós amamos as facilidades que as tecnologias nos trouxeram, basta não entrarmos em pânico diante de suas falhas.
Isso não quer dizer que todos devem estar conectados o tempo todo, quer dizer que estamos cientes que existe um mundo conectado no virtual, e cabe a nós decidir onde queremos estar.
O conhecimento é a melhor arma que podemos ter a favor da nossa conduta e para conduzir os nossos jovens.
As pesquisas citadas aqui podem ser encontradas no portal Olhar Digital (olhardigital.uol.com.br), com os títulos:
- 70% dos jovens escondem dos pais suas atividades na web
- Sem redes sociais, 18% dos adolescentes dos EUA parariam de se comunicar
- Infográfico mostra as consequências do cyberbullying
- Metade dos usuários do Facebook vai passar menos tempo no site
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Artigo escrito para a agência Adital – América Latina e Caribe, na qual sou colunista.
Gostei de sua abordagem sobre o tema e concordo com a importância de pais e professores estarem muito alertas e tão conhecedores do mundo digital quanto seus filhos ou alunos.
Obrigada pelas considerações Miriam!
Abraços
Talita