Opinião e reflexão] Você quer plateia para seu espetáculo?

Por Talita Moretto
Em alguns dias dessas últimas semanas eu simplesmente não conseguia me concentrar e, consequentemente, estava impossível juntar as letras em alguma escrita. Refleti sobre vivências, experiências, coisas que ouvi, que vi, que estou percebendo, que estão acontecendo. No trabalho, em casa, no caminho para casa, surpreendia a mim mesma em reflexões. Por que é tão difícil trabalhar com mídia e educação?  Parei de me preocupar. Não me levaria a algum lugar. E voltei a escrever.
O que entendo como o grande problema nesta interface “mídia-educação” é a presença de um singelo, meio tímido, encobrindo-se e ao mesmo tempo mostrando-se: o estrelismo. De ambos os lados, professores e comunicadores querem ser o “ator principal”, e ignoram o resto do elenco. Esquecem que para um completo e belo espetáculo “um” ator principal é absolutamente nada!
Um bom espetáculo é construído por todos na atuação em equipe. Nem mesmo um monólogo acontece sozinho. Precisamos do rapaz do som, daquele que cuida das luzes, da cortina, da bilheteria, do que organiza e limpa o local, precisamos da plateia. Mas qual plateia queremos? Qual plateia está disposta a prestigiar nosso espetáculo? Afinal, porque queremos que nossas ações sejam um espetáculo? E um espetáculo solitário, de nós para nós.  Deveríamos exigir aplausos? Ei, estamos falando de educação?
No campo da educação, a prepotência de comunicadores em achar que são “seres elevados” pelo fato de conhecerem a mídia, a construção da notícia, as fontes e a opinião pública; e no campo da mídia, a prepotência de professores em achar que um comunicador não sabe educar porque não estudou pedagogia; deixa o espaço vulnerável a uma educação distorcida, com jovens descontentes e ávidos por respostas que não chegam, com desejo de expressar e ensinar aquilo que sabem, mas que o egocentrismo dos grupos de educadores – sociais e pedagógicos – não permite revelar.
Tudo que hoje sabemos, aprendemos com o mundo. Tudo o que nossos pais nos ensinaram eles aprenderam com o mundo e com os nossos avós, que aprenderam com o mundo e com os nossos bisavós, e assim, nessa corrente de aprendizado, o meu saber é juntado com o seu e juntos descobrimos algo a mais para ensinar e aprender. Ensinar e aprender juntos. Eu acredito nisso, na construção colaborativa do conhecimento.
Deste modo, entramos na educomunicação. Aqui, os dois grupos juntam-se para ocupar uma nova posição na sociedade: a de educomunicadores. Problema resolvido? Não. A sobreposição de papéis continua. E essa necessidade incontrolável de acreditar que sua ação é superior e única, já te extingue do grupo de educomunicadores ao qual você se inseriu. Práticas educomunicativas são realizadas na cooperação, em conjunto, em parceria, com participação de todos, com humildade para ouvir e falar. Quando falamos em educomunicadores pensamos em um grupo que deveria, logicamente, unir forças para a transformação, para fazer acontecer, que entende o educar como algo colaborativo, social, democrático e livre, mas na prática, algumas vezes, esse mesmo grupo respalda-se na concorrência de quem faz melhor. Ei, estamos falando de educação!
Há algum tempo tenho percebido isso. Sinto-me de lado por não tomar partido, mas sim firmar alianças de enriquecimento e não de concorrência, por não ficar de braços cruzados esperando a luz acender, mas buscar o ambiente que está claro. Sinto-me fora do espaço dentro do espaço. Ei, estamos falando de educar!
Não atuo com respaldo em sombras. Conheci pessoas e vivi momentos. Eu faço. Eu atuo em parceria com quem tem a humildade para aceitar que podemos aprender com o outro; que podemos dialogar e não concorrer. Tudo o que sabemos vem do aprendizado de um antecessor. Se apropriar de dizeres escritos em páginas de um livro que lá no final apresenta referencial bibliográfico já mostra que a ideia não é sua e nem do autor do livro, e você ainda acredita que sabe mais que os outros ao seu redor?
Questão: Você vai educar para o mundo excluindo os personagens, tapando os olhos de seus aprendizes para as cenas, ignorando o contrarregra e pedindo silêncio? Eu não. A minha Sala está Aberta. Entre! Vamos conversar.

Fonte: Banco de imagens gratuitas do site sxc.hu

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