Opinião] Cada leitor precisa de uma leitura
Jovens não gostam de ler. Esta afirmação é quase um mantra. Até mesmo aqueles que nunca conversaram com um jovem insistem em repetir essas palavras, assumindo a postura de especialistas no assunto. Mas o que é a leitura senão uma estratégia de socialização?
Por Talita Moretto
Jovens não gostam de ler. Esta afirmação é quase um mantra. Até mesmo aqueles que nunca conversaram com um jovem insistem em repetir essas palavras, assumindo a postura de especialistas no assunto. Mas o que é a leitura senão uma estratégia de socialização? Quem não lê, logo não conhece e, por não conhecer, é incapaz de se comunicar, de interagir; não consegue defender seus gostos, opiniões, ideias e descobertas; como criar sem ler? Bom, então pode ser que o jovem goste de ler, pois é difícil imaginar um ser “dessa espécie” que não seja criativo, habilidoso e interessado no que lhe desperta o interesse.
A constatação de que alguém não lê deriva da pergunta errada, mal elaborada e mal entoada. Não se deve questionar ao adolescente: “você gosta de ler?” porque é quase inevitável receber “não” como resposta. No entanto, trata-se de uma resposta embasada, decorrente de uma tradição passada de estudante a estudante, de escola em escola, com regras acerca do como, por que e o que ler. Uma tradição antiquada, que reconhece a inovação na área literária, porém ignora-a e, acima de tudo, que não contempla a leitura, mas valoriza a apreensão de palavras e caraterísticas de um texto, mesmo que nenhum sentido ele faça ao leitor. De qualquer forma, precisamos ler. Por que mesmo? Porque sim, porque é importante ler. Mas por que é importante?
Algo que eu aprendi na formação em jornalismo foi fazer as perguntas certas. “O que você gosta de ler?” perguntaria eu a um jovem estudante. “Sobre o que vamos conversar hoje?” instigaria quando, em sala de aula, um assunto importante surgisse entre um conteúdo disciplinar e outro. “Então, o que vocês pensam a respeito?” desafiaria a todos a participarem da conversa. Esta vontade de participar pode estar no caminho entre a sala de aula física e uma biblioteca virtual.
“Temos que fazer uma campanha para que as pessoas descubram que todos têm uma biblioteca nas suas mãos”, disse o escritor Affonso Romano de Sant’Anna, 77 anos, durante um bate-papo com o pessoal do projeto “Um escritor na biblioteca”, da Biblioteca Pública do Paraná. Ele estava referindo-se aos livros digitais e defendendo que os mesmos estejam nos tablets e nos celulares usados diariamente no cotidiano social.
Refletindo sobre isso, pode-se perceber que, ao reconhecer a existência das bibliotecas virtuais, o professor está estimulando o uso da internet para fins educativos e culturais, e valorizando o protagonismo de cada aluno na sua formação. Como? Permitindo a interação através de fóruns virtuais de discussão; propondo a escrita de uma resenha de forma colaborativa, online e a distância; incentivando que os jovens divulguem em suas redes sociais o livro que estão lendo; entre outras estratégias prazerosas de leitura e escrita.
Os estudantes, bem todos nós, fazem parte de um mundo globalizado, dinâmico, ativo e inspirador. Exigir que a energia juvenil seja canalizada na leitura de um texto que pouco ou nenhuma relevância tem para quem lê, é ignorar a vivência social desse público.
Uma navegação orientada pela web revela repositórios de livros diferentes e atrativos, com imagens que se movem e hiperlinks que simulam uma caça ao tesouro. As bibliotecas virtuais oferecem um cardápio variado desse tipo de leitura. Somos capazes de sair de lá com uma pilha de obras que pesam apenas na riqueza de seu conteúdo. Portanto, fazendo a pergunta certa, levaremos o jovem para dentro dessa biblioteca e observaremos, com zelo e admiração, o quanto ele gosta de ler.
—
Artigo escrito especialmente para o Instituto Ecofuturo.
Há muita incoerência quando a questão é leitura entre jovens (e adultos) e acredito que elas passam pelo próprio conceito de leitura, que tradicionalmente diz respeito à literatura considerada importante. Na escola o espaço destinado à leitura e à produção de textos é muito pequeno, às vezes, inexistente. Tenho dois filhos adolescentes: um deles devora um livro por semana, daqueles de literatura fantástica, suspense… mas torceu o nariz, quando lhe falei de A metamorfose (um livrinho fino em comparação aos que ele lê). O outro filho, não lê livro, acha cansativo… mas lê o jornal comigo aos domingos, lê na internet sobre aquilo que lhe interessa e desafia (judô e games e viagens, por exemplo).
Olá Marcilene,
você trouxe dois exemplos de como a leitura está presente entre crianças, jovens e adultos: o sentido que ela traz para quem lê.
Na escola, muitas vezes, os jovens estão diante de leituras impostas por serem importantes em algum momento no ensino, o que, muitas vezes, faz com que eles se afastem dela por não sentirem afinidade com o que está sendo lido, no entanto, quando o interesse aflora diante de algum texto, a leitura acontece naturalmente e sem preconceitos.
O que eu pretendi discutir no texto foi justamente a relação do leitor com a leitura, independente do que é necessário neste ou naquele momento, mas a atitude de ler.
Obrigada por participar da discussão.
Sinta-se sempre bem-vinda no Sala Aberta.
Abraços,
Talita.