Do Contato à Ação: Uma grande reportagem – Parte 4 "Final"

UEPG E APAE PROFISSIONALIZAM ALUNOS

Na biblioteca, na cozinha ou na horta, a Universidade Estadual de Ponta Grossa garante que jovens com necessidades especiais sejam inseridos no mercado de trabalho

O aluno da APAE, Ronaldo Pereira da Silva, planta, rega, colhe e acompanha o crescimento das verduras. Ele faz estágio no colégio agrícola da UEPG. (Foto: Thayssen Ackler Bahls)

Thayssen Ackler Bahls
(thaysse.acklerbahls@gmail.com)
Todos os dias, das sete às onze horas da manhã, Ronaldo Pereira da Silva procura tomar sua dose diária de conhecimento. Acompanhando o ciclo da vida, Ronaldo vê as sementes plantadas por ele dias atrás, em fase de crescimento. Ele sabe que daqui alguns dias, não serão mais sementes e sim alimentos que farão toda a diferença na mesa de quem os receber. Além de plantar e colher, Ronaldo também oferece água às suas plantações. Aos poucos, ele vai molhando uma por uma. Assim são as atividades de quem recebeu a oportunidade de estagiar no Colégio Estadual Agrícola Augusto Ribas da Universidade Estadual de Ponta Grossa, um projeto de inclusão em parceria com a APAE. Durante uma atividade e outra, entusiasmado, Ronaldo conta que adora o que aprende no estágio: “Eu gosto do que faço. Adoro colher aquilo que eu mesmo planto como cebolas, brócolis e alfaces. Eu molho as plantas todos os dias”.
O professor responsável pelo projeto, Fausi Azis Chagury, explica que os estágios são distribuídos em diversas áreas da universidade, como biblioteca, cozinha e alguns setores do colégio agrícola, a exemplo da horta. Ele assinala que os alunos são acompanhados por orientadores, os quais transmitem o conhecimento e a rotina de cada ambiente de trabalho.
O estágio oferece aos alunos uma bolsa de duzentos reais mensais e tem duração de dois anos, podendo ser prorrogado por tempo indeterminado. No final, os alunos recebem o certificado de qualificação. “Eles saem da universidade com algum conhecimento prático e podem facilmente encontrar vagas de empregos em razão da prática adquirida no estágio”, explica Chagury.
Jovens aprendem a arte da marcenaria em peças de artesanato: Existem outras instituições que auxiliam nessa ligação entre empregado e empregador no processo de ingressar pessoas portadoras de algum tipo de deficiência no ambiente de trabalho. A Associação Artesanal do Excepcional de Ponta Grossa (Assarte) é uma delas. É através de madeiras, tintas, botões entre muitos outros materiais que os estudantes dão seu primeiro passo para a capacitação profissional. O artesanato oferece aos alunos a possibilidade de aprender coisas novas e adquirir conhecimento e experiência. O talento e coragem levam cada vez mais jovens com déficit intelectual a competir com outras pessoas por uma vaga de emprego.
A Assarte é uma associação sem fins lucrativos que atende a pessoas com deficiência mental de leve a moderada. Através de trabalhos manuais, a entidade procura direcionar os alunos para o mercado de trabalho. De acordo com Simone Farias, assistente social da instituição, é realizado um encontro semanal com os alunos para que eles possam receber informações e reflexões sobre o seu papel como trabalhador. “Nessas reuniões, nós explicamos questões importantes para eles, como responsabilidade, pontualidade, fundo de garantia, décimo terceiro salário, férias, e relação social com colegas de trabalho”.
Além de auxiliar na contratação dos profissionais, a Associação também faz o acompanhamento do trabalhador dentro das empresas através de visitas e contato com os profissionais responsáveis. A família também auxilia nesse monitoramento.
A inclusão social que saiu do papel: Aos poucos, tudo foi se transformando. O projeto, que antes era idealizado apenas no papel, começou a ganhar vida e espaço em meio a tantos obstáculos.
Aos poucos, tudo foi se transformando. O projeto, que antes era idealizado apenas no papel, começou a ganhar vida e espaço em meio a tantos obstáculos. É assim que o projeto de levar as câmeras fotográficas para dentro do ambiente escolar da APAE de Ponta Grossa pode ser descrito. A cada semana um novo desafio. Aprender a lidar com as limitações, exigências e a morte enriqueceram o projeto.
O trabalho de conclusão de curso voltado para a inclusão social de crianças com déficit intelectual acabou se transformando em uma imensa oportunidade de rever conceitos e modificar atitudes. A vice diretora da APAE, Lindamir Koroviski, que acompanhou o projeto desde o início, destacou pontos importantes sobre a repercussão do trabalho. Para ela, o projeto abordou a inclusão social de um ângulo diferente e assim contribuiu para que pais, professores e comunidade se conscientizem que alternativas divertidas podem ajudar no trabalho com o alunos portadores de necessidades especiais.
A professora dos alunos, Giseli Slivinski, complementou a opinião de Lindamir dizendo que o projeto contribuiu para melhorar a autoestima dos participantes: “Foi um momento importante para a escola e os alunos se sentiram úteis ao realizarem as atividades da pesquisa”. A professora destaca que todas as fases de aprendizagem do projeto foram importantes, desde o manuseio da câmera fotográfica até o momento da aproximação dos alunos com a natureza. Os olhares e sorrisos de todas as crianças envolvidas deixaram a prova de que incluir é preciso e necessário.
Antônio Elb, Lucimara dos Santos e Lucas Trentini, com Thayssen durante a abertura da exposição das fotos na Câmara de PG, em agosto de 2011.

Ações da APAE:
>>Affinitas Banda Show: criada para promover o bem estar físico, emocional e intelectual das crianças com déficit intelectual através da música.
>>Informatizando a informação: desenvolvido em parceria com a Secretaria Municipal de Educação com o objetivo de despertar o interesse pela leitura através do computador.
Conheça o trabalho da APAE Ponta Grossa: pontagrossa.apaebrasil.org.br
>>Esta reportagem não pode ser reproduzida em outros meios sem a prévia autorização da autora. Contato: thaysse.acklerbahls@gmail.com.

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