Do Contato à Ação: Uma grande reportagem – Parte 3

 DEFICIÊNCIA NÃO DIMINUI CAPACIDADE

Reportagem destaca como as leis e a participação social empresarial garantem que portadores de necessidades especiais conquistem seu espaço no mercado de trabalho

Rafael Zem é funcionário do Colégio Sesi. O déficit intelectual não impede que ele cumpra todas as suas funções. (Foto: Thayssen Ackler Bahls)

Thayssen Ackler Bahls
(thaysse.acklerbahls@gmail.com)
O trabalho começa às 14 horas. Sua primeira tarefa é organizar envelopes e receber os malotes de correspondência. Além disso, ele também tira fotocópias e ajuda a transportar materiais. Essa é a rotina de Rafael Zem, funcionário do Colégio Sesi de Ponta Grossa. O garoto apresenta déficit intelectual, e trabalha como auxiliar de serviços gerais há cinco anos. Segundo ele, o melhor de trabalhar é receber o salário no final do mês. “Eu gosto de trabalhar para ganhar dinheiro e me sentir útil”, diz. A mãe, Aurora Zem, observa que desde que começou a trabalhar o filho passou a ser mais responsável. “Ele ficou muito organizado e aumentou sua responsabilidade. Eu sempre estou motivando a ele para ter seu próprio dinheiro”, conta.
Apesar da dificuldade na comunicação, Rafael é um funcionário atencioso com os colegas. Evelin Foltran conta que ele sempre auxilia a todos. “Ele é muito carinhoso. Eu gosto bastante de trabalhar com ele. Sempre nos ajuda e nunca diz não para os favores que pedimos”, comenta.
Assim como Rafael, muitos deficientes intelectuais procuram entrar no mercado de trabalho. Segundo dados da Agência do Trabalhador de Ponta Grossa, as vagas surgem de acordo com o tipo de deficiência. Antônio Laroca Neto, gerente da Agência, explica que as empresas estão contratando cada vez mais e assim colaborando para a inclusão social de portadores de necessidades especiais. “Estamos percebendo que existe boa vontade por parte do empresariado no cumprimento adequado para a participação social”, ressalta.
Para reforçar a inclusão nas empresas, a Lei de Cotas nº 8.213, sancionada em 1991, propõe que empresas com mais de cem funcionários contratem portadores de necessidades especiais. Segundo o advogado Recieri de Tarso Zenardi, o montante que as empresas gastam para a profissionalização de colaboradores com algum tipo de deficiência pode ser revertido em descontos nos impostos dados pelo governo.
Em setembro de 2011 a Lei sofreu modificações. A Comissão de Seguridade Social e Família aprovou a proposta que obriga as empresas que tenham de cinquenta a cem funcionários a preencher 1% dos seus cargos com portadores de necessidades especiais.
Há casos que, além da Lei, as empresas se integram a iniciativas da área através da participação social. É o caso da empresa em que Rafael Zem trabalha, o Sesi – Senai de Ponta Grossa. Denise Beninca de Paula, gerente da entidade, destaca que a empresa se empenhou em trazer a inclusão social para o ambiente de trabalho. “Buscamos trazer mais esse desafio para o colégio justamente para construirmos a inclusão. Todos os funcionários são muito receptivos com o Rafael e nunca houve qualquer tipo de preconceito por parte deles”, afirma.
Acessibilidade – Falta de insfraestrutura ainda é um problema: A construção de rampas e a instalação de elevadores é o novo desafio das empresas. Muitas vezes a busca pela inclusão social não depende somente da boa vontade dos empregadores, mas também do suporte e acessibilidade que devem ter para oferecer aos novos funcionários. Para a professora Jussara Carmencita Gomes Lichacovski, da Coordenadoria de Atenção e Orientação ao Estudante (CAOE), da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), existem algumas preocupações importantes que devem ser levadas em conta quando o assunto são portadores de necessidades educativas especiais. Por exemplo, a falta de infraestrutura em todos os ambientes, desde locomoção, calçamento, meios de transporte e estrutura física adequada nas escolas. “Também é exigida atenção para a necessidade urgente da capacitação adequada dos profissionais envolvidos com a educação e a conscientização da população para que não haja discriminações com as diferenças”, esclarece.
>>Esta reportagem não pode ser reproduzida em outros meios sem a prévia autorização da autora. Contato: thaysse.acklerbahls@gmail.com.

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