Comunicar para inovar na comunidade

Compartilho com vocês, de primeira mão, trecho do artigo que escrevi para compor a obra do VI CIEL – Ciclo de Estudos em Linguagem 2011, no qual eu participei como palestrante na mesa-redonda “As novas linguagens e os sujeitos nos espaços”, ao lado do escritor Ismael Caneppele e do Prof. Dr. Fábio Steyer.

Comunicar para inovar na comunidade

Muitas Organizações Não-Governamentais (ONGs), instituições de ensino formal, informal e não-formal, e pessoas confiantes de que o saber proporcionado pela ação da comunicação em comunidades pode transformar realidades já trabalham em parceria com jovens, ouvindo, auxiliando, e orientando essa parcela grande da população sobre seus anseios e como eles percebem seu papel, e até mesmo sua existência no espaço.
A Cipó – Comunicação Interativa, uma organização civil sem fins lucrativas, criou o projeto Agentes de Comunicação para o Desenvolvimento, com o intuito de formar jovens do Subúrbio Ferroviário de Salvador/BA, para serem comunicadores comunitários, produtores de mídia, educomunicadores e articuladores sociais. A primeira edição do projeto aconteceu entre 2008 e 2010, e o número de jovens e pessoas impactadas pelas ações do projeto foi bastante significativo, o que prova o potencial desses autores .
Este exemplo demonstra de que forma o acesso à informação, e o ato de informar, de comunicar, pode interferir na formação além dos muros da escola. Uma oportunidade dada a jovens que se sentiam midiaticamente excluídos em sua comunidade, vendo sua cultura desaparecer entre as notícias ruins que exalavam do local onde vivem. Eles resolveram mostrar o que de bom produzem, e como viviam as pessoas ao seu redor.
Em conversa com uma pequena parcela desses adolescentes, descobrimos que o mais os deixava afastados do convívio social era a exclusão, até mesmo por termos como “suburbanos”, o que acarretava um significado negativo perante os olhos de espectadores e telespectadores que muito pouco conheciam da sua comunidade. Recursos como produção de pequenos documentários, jornal-mural, fanzines, informativos deram oportunidade para que o bairro ganhasse espaço como pertencente da grande Salvador.
ssas ações deixam a indagação: Por que não fazemos isso com nossos jovens? Será que a escola pública aceita que seus alunos possam ser detentores da mídia, possam comunicar, possam produzir? Uma afirmação vaga, muitas vezes criada pelo senso comum, ainda paira nos bairros periféricos, e nas escolas periféricas de muitas cidades: “Os alunos não conhecem, ou não têm acesso à tecnologia”. Da onde surgiu? Uma questão instigante, pois aos jovens não foi dada a oportunidade de responder.
Entramos, deste modo, na exclusão digital. Essa tal expressão que virou “moda”, é tomada de forma equivocada, atribuindo à exclusão digital somente a falta de computadores em uma escola. Porém, as questões em torno disso são mais complexas. Educadores contribuem para a exclusão digital ao ignorar que seus alunos conheçam a tecnologia fora do ambiente educacional? Quem erra, ou quem acerta em aceitar que a tecnologia, seja como for, entre em suas aulas e seja recurso didático?
Toda a complexidade que está entorno do fazer escola, do ensinar, do educar, a falta de incentivo, muitas vezes governamentais, ou o excesso de incentivo, mas sem estrutura, sem preparo, não culpa educadores ou gestores educacionais nesse processo de negação tecnológica. De qualquer forma, o primeiro passo para haver efetivamente uma inclusão digital é aceitar que ela, a tecnologia, existe na sociedade.
O Educarede, da Fundação Telefônica, é um portal educacional orientado para a educação e as novas Tecnologias da Informação e da Comunicação, para familiares, alunos e educadores. Com essa visão da presença tecnológica na vida de todos, foi criado um projeto com o objetivo de reconhecer e valorizar a troca de conhecimentos e experiências a partir de um tema emergente: os desafios que as inovações tecnológicas trazem para a escola. Com isso, surgiu o grupo de estudos online “Educar na Cultura Digital” .
Essa proposta torna-se relevante ao aceitar que o jovem, o aluno, interage com o meio quando está fora da escola, e ao retornar à ela, traz esse conhecimento adquirido e busca ali, na interação das aulas, mais informações e possibilidades de transmitir e contribuir com aquilo que o meio lhe oferece. E o que o meio social nos oferece hoje demasiadamente? Informação e tecnologia.
Não se pode mais negar – sendo até mesmo “perigoso” negar – a influência que a informação e a tecnologia, a mídia, exercem na vida e no cotidiano das pessoas. À educação cabe aceitar os avanços das novas mídias e instruir o jovem aluno em como se relacionar com elas, pois esses jovens já sabem que elas existem, e devotam uma curiosidade indescritível sobre ela, mas ao manifestar isso, são bloqueados por práticas pedagógicas que ainda não percebem – às vezes não conseguem perceber – que de inimigas elas podem se torar grandes aliadas.
Com uma câmera na mão, seja ela no celular, um adolescente pode transmitir muitas mensagens; com um computador (na sua casa, na sua escola, na casa do vizinho ou em qualquer lugar em que o encontre – e hoje é fácil encontrá-lo e tocá-lo) pode transpor as barreiras do saber, e conhecer o novo, e inovar com ele, e trazer isso para seu aprendizado de forma saudável. Se faltam computadores na sua escola, não seja esse o motivo para não falar sobre eles.
 Um dos caminhos para inovar e ver as práticas de ensino mais efetivas, é através do diálogo. Deixar o aluno falar suas impressões sobre o mundo e sobre a escola, e aprender com ele também. É a Participação, que fica ali no final da palavra Edudomunicação, e que pode fazer a diferença. Promovendo, dessa forma, o desenvolvimento não apenas educacional, mas pessoal e social do jovem.
Jovens que participam de programas que aceitam a relação mídia – educação conhecem a mídia e podem até mesmo pautá-la, dar sugestões, dizer como ela deve agir. Talvez seja esse um caminho para o educar para a paz?

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