Alunos produzem entrevista e participam de concurso mundial (Equipe 01)
A entrevista a seguir foi produzida pelos alunos Alison Borges, David dos Santos, Gabriel Fragoso Borges e Robson Faustin, sob orientação dos professores Marcelo Kauit e Rafaela da Silva, do Centro de Referência em Assistência Social (CRAS) – Unidade Sabará. Supervisão e edição de Talita Moretto.
PINTANDO MEMÓRIAS: Artista plástico destaca as paisagens de sua infância, na cidade e no campo, em verdadeiras obras de arte
Marcelo Schimaneski nasceu em 18 de janeiro de 1967, em Ponta Grossa, no Paraná. Um homem bem-humorado com uma expressão otimista, mas quem olhar mais de perto vai perceber que ele é ainda mais especial. Schimaneski tinha apenas 22 anos quando um acidente de carro o deixou tetraplégico, foi quando ele descobriu uma nova forma de viver: ele tornou-se um pintor. Pintar é um exercício fisioterapêutico e também uma comprovação que apesar das dificuldades, todos têm o direito de viver em sociedade. Hoje em dia, Schimaneski é um artista plástico muito famoso no Estado do Paraná. Ele participa de salões de arte e exposições com bastante frequência.
CRAS Sabará: Poderia contar como foi o acidente que o deixou tetraplégico?
Marcelo Schimaneski: Bem, o acidente… (ele respira fundo). Eu trabalhava em uma empresa que presta assistência técnica a serrarias nos estados de São Paulo e Minas Gerais. Certa vez [em 1989], quando estávamos voltando de São Paulo, o motorista da empresa dormiu ao volante e o carro capotou. O acidente causou uma lesão séria em algumas vértebras e paralisou meus movimentos do pescoço para baixo. Até então minha vida era normal, eu jogava futebol, passeava, frequentava clubes, bares. Eu sonhava com uma família, com uma vida tranquila e simples.
CRAS: Você descobriu o talento para a pintura após o acidente?
Schimaneski: Na verdade, descobri meu talento para a pintura aos dez anos de idade fazendo trabalhos de escola para os vizinhos (conta sorrindo). Mais tarde, quando eu tinha vinte anos, fiz um curso de desenho de grafite. Foi ali que eu descobri que precisava praticar para obter resultados, então comecei a treinar, mas me tornei artista por acaso mesmo. Depois do acidente a pintura me ajudou a recuperar alguns movimentos nos braços e nos pulsos, os dedos eu ainda não consigo mexer. Mas confesso que no início eu tinha vergonha de expor porque considerava minhas obras feias. Foi minha mãe que teve a iniciativa de colocá-las em exposição no shopping da cidade. A partir daí outras oportunidades surgiram e tudo começou a acontecer naturalmente.
CRAS: A pintura o ajudou a lidar com as consequências do acidente?
Schimaneski: Pintar me ajudou a recuperar alguns movimentos, fortalecer os braços e a ter novos sonhos, por exemplo, ver meu trabalho amplamente reconhecido. O que eu faço pode servir como exemplo para outras pessoas porque minha persistência mostra que apesar das dificuldades é possível alcançar os nossos objetivos.
CRAS: As suas obras de arte mudaram sua vida?
Schimaneski: Quando eu comecei a participar dos salões de arte as pessoas me olhavam com pena, de uma maneira que faziam eu me sentir insignificante. Mas eu comecei a ganhar prêmios e, consequentemente, mais respeito. Deixei de ser conhecido apenas pela condição física e sim pelo meu trabalho. No último salão que aconteceu aqui em Ponta Grossa, este ano, algumas pessoas olharam para mim e disseram: “O Marcelo Schimaneski vai participar do Salão? Daí não tem como competir, ele ganha todas!”. Isso faz com que eu me sinta reconhecido pelo meu trabalho e respeitado.
CRAS: Como você define o estilo de suas pinturas?
Schimaneski: Quando eu comecei a pintar não sabia coisa alguma sobre técnicas. Um amigo, que é artista plástico, o João Carneiro, a mesma pessoa que me incentivou a começar a pintar, foi quem listou os materiais e fez uma avaliação das minhas pinturas. Ele disse que era ‘naif’ [estilo produzido por um artista sem formação acadêmica, caracterizado pela simplicidade da técnica e dos elementos, geralmente representando o cotidiano].
CRAS: Por que você só pinta paisagens de Ponta Grossa?
Schimaneski: Optei por paisagens locais porque esta é a minha cidade, eu moro aqui e gosto de retratá-la nas minhas obras. Também uso fotos de casas antigas da cidade e de algumas em que morei para que não sejam esquecidas. Gosto quando as pessoas olham os quadros e reconhecem o lugar. Além disso, outro tema favorito é o rural porque quando eu era pequeno passava as férias da escola na chácara de uma tia, convivendo com a natureza e os animais.
CRAS: Por certo tempo você parou de pintar. Por quê?
Schimaneski: Comecei a pintar no ano 2000 e após fazer algumas telas uma pessoa chegou e me disse: “As pessoas vão comprar a sua obra porque têm pena de você, porque você está em uma cadeira de rodas”. (conta com lágrimas nos olhos). Então, eu simplesmente parei de pintar. Foi o mesmo amigo, do qual já falei, o João Carneiro, que me motivou a voltar, em 2004. Hoje eu sei que as criticas sempre vão existir, principalmente vindas de outros artistas, mas não dou mais atenção. Outro motivo que me trouxe de volta à pintura é porque ela me ajuda a recuperar os movimentos das mãos que estava começando a perder novamente. Acho eu foi um sinal de que pintar, para mim, é uma nova forma de viver e ficar melhor fisicamente.
CRAS: Você acredita que existe inclusão social para portadores de deficiência física em Ponta Grossa?
Schimaneski: Vejo a inclusão como a aceitação de pessoas com deficiência em todos os meios sociais. Sendo assim, acredito que em Ponta Grossa a inclusão existe, considerando que recebo ajuda de desconhecidos quando preciso. No entanto, as condições de acessibilidade devem ser melhoradas.
CRAS: O que poderia ser feito, aqui em Ponta Grossa, para que as condições de acessibilidade fossem melhoradas?
Schimaneski: Quando eu me deparo com um local público, como o Centro de Cultura de Ponta Grossa, que tem uma longa escada para chegar até as exposições, vejo que ainda há muito que ser feito. Para citar outros locais, temos os teatros Guaíra e Proex [da UEPG] que também têm escadas, mas eu acredito que a cidade já está melhorando. Muitas vezes quando as pessoas percebem que estou com dificuldade para ultrapassar um obstáculo elas me ajudam. A cidade, como as pessoas, deve estar preparada para auxiliar aqueles que precisam de ajuda e aceitar que, apesar dessas dificuldades, pessoas como eu têm sonhos e o direito de torná-los reais. Eu sonho em ver meu trabalho conhecido em todo o país e, quem sabe um dia, até mesmo no exterior, mas, para isso, além do meu esforço preciso da infraestrutura da cidade e de acessibilidade, que pode começar com uma rampa de boa qualidade, passarelas em bom estado, acostamentos adaptados para deficientes. Isso faz com que eu e outras pessoas com necessidades especiais tenhamos acesso à cidade, que é nosso direito como de qualquer outro cidadão.
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A mãe de Schimaneski reaparece no final da entrevista para oferecer café e biscoitos, e aproveita para elogiar os quadros e comentar as cenas pintadas nas telas. Ela demonstra muito orgulho pelo filho artista.
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Para conhecer mais sobre o trabalho de Marcelo Schimaneski, acesse o site: marceloschimaneski.edicypages.com.
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A ENTREVISTA DOS MEUS SONHOS: O trabalho foi produzido para o concurso mundial “A Entrevista dos Meus Sonhos – Um festival global de reportagens feitas por jovens sobre histórias de sucesso”, promovido pela Associação Mundial de Jornais e Editores de Notícias (WAN-IFRA). Era permitida a participação de escolas do mundo inteiro que tivessem parceria com jornais associados à WAN-IFRA e Associações Nacionais de Jornais. Cada jornal pôde inscrever dois trabalhos que deveriam ser produzidos por alunos com idade entre 11 e 15 anos, supervisionados por professores. As equipes tinham que escolher uma pessoa importante, que todos gostariam de entrevistar, e que representasse sucesso através de trabalho árduo e sério. O objetivo foi mostrar aos jovens o valor e a importância da dedicação e do trabalho, ensinar a prática da entrevista jornalística e competências linguísticas. O Colégio Estadual Eurico Batista Rosas, de Carambeí, também está participando através do Vamos Ler e na sequência terá sua entrevista publicada aqui. O resultado do concurso será divulgado na próxima semana.